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sábado, 12 de janeiro de 2013

Esperando "Giberto"


Meu bisavô Bernardo era um imigrante italiano, profissional da construção civil, um mestre de obras, para os padrões brasileiros do entre guerras seus conhecimentos o colocavam numa posição semelhante à de um arquiteto. Por conta disso, viajou a muitas cidades do interior de São Paulo, participou da construção de projetos importantes como a fábrica da Pirelli e o Grande Hotel São Pedro.
Na época da construção do Grande Hotel São Pedro, minha nonna era criança e órfã, ela e seus três irmãos, minha bisavó, também imigrante italiana morreu muito cedo vítima da tuberculose, naquela época, não havia tratamento para a doença e as pessoas morriam dela. Naquele tempo também era de praxe, tão logo um homem ficar viúvo já encontrar outra esposa, geralmente sua amante de quando era casado com a falecida. E assim meu bisavô o fez. Então, na ocasião da construção do Grande Hotel São Pedro, viviam em São Pedro, meu bisavô, a madrasta da minha nonna, minha nonna, seus irmãos e uma empregada que ajudava com os afazeres domésticos, a Nhá Ismênia.
Dizia minha nona que a Nhá Ismênia não tinha lá as ideias no lugar e todos os dias no final da tarde, Nhá Ismênia se arrumava, se maquiava com o que tinha disponível nos anos 30 (rolha queimada, batom e rouge), pegava a bolsa e esperava pelo “Giberto”. Assim que passava um aviãozinho desses “teco-teco” ela saia correndo desesperadamente atrás do “Giberto” e assim foi por anos e anos. Acontece, que não existia nenhum “Giberto”, a não ser na imaginação dela, talvez ela o tenha conhecido, ou simplesmente inventado um grande amor.
Minha nonna nunca soube explicar quem era o tal “Giberto”, até porque, na época ela era muito criança, minha mãe também não sabe, porque ouviu a história da minha nonna e eu sei menos ainda. Só sei que minha mãe costuma me alertar quando eu invisto num relacionamento furado dizendo: “vai lá esperar Giberto.”
E, numa reflexão mais aprofundada, numa época de aviões moderníssimos, maquiagens elaboradas e pouco espaço para correr, muitas mulheres continuam atrás do seu “Giberto”.