Meu bisavô Bernardo era um imigrante italiano, profissional
da construção civil, um mestre de obras, para os padrões brasileiros do entre
guerras seus conhecimentos o colocavam numa posição semelhante à de um
arquiteto. Por conta disso, viajou a muitas cidades do interior de São Paulo,
participou da construção de projetos importantes como a fábrica da Pirelli e o
Grande Hotel São Pedro.
Na época da construção do Grande Hotel São Pedro, minha
nonna era criança e órfã, ela e seus três irmãos, minha bisavó, também
imigrante italiana morreu muito cedo vítima da tuberculose, naquela época, não
havia tratamento para a doença e as pessoas morriam dela. Naquele tempo também
era de praxe, tão logo um homem ficar viúvo já encontrar outra esposa,
geralmente sua amante de quando era casado com a falecida. E assim meu
bisavô o fez. Então, na ocasião da construção do Grande Hotel São Pedro, viviam
em São Pedro, meu bisavô, a madrasta da minha nonna, minha nonna, seus irmãos e
uma empregada que ajudava com os afazeres domésticos, a Nhá Ismênia.
Dizia minha nona que a Nhá Ismênia não tinha lá as ideias no
lugar e todos os dias no final da tarde, Nhá Ismênia se arrumava, se maquiava
com o que tinha disponível nos anos 30 (rolha queimada, batom e rouge), pegava
a bolsa e esperava pelo “Giberto”. Assim que passava um aviãozinho desses “teco-teco”
ela saia correndo desesperadamente atrás do “Giberto” e assim foi por anos e
anos. Acontece, que não existia nenhum “Giberto”, a não ser na imaginação dela,
talvez ela o tenha conhecido, ou simplesmente inventado um grande amor.
Minha nonna nunca soube explicar quem era o tal “Giberto”,
até porque, na época ela era muito criança, minha mãe também não sabe, porque
ouviu a história da minha nonna e eu sei menos ainda. Só sei que minha mãe
costuma me alertar quando eu invisto num relacionamento furado dizendo: “vai lá
esperar Giberto.”
E, numa reflexão mais aprofundada, numa época de aviões
moderníssimos, maquiagens elaboradas e pouco espaço para correr, muitas
mulheres continuam atrás do seu “Giberto”.
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