Um dia desses eu fui convidada a participar de uma
reuniãozinha no trabalho com gente de fora e, para esse momento, precisava
estar dignamente vestida. Então, percebi que não tinha uma roupa digna – antes
que vocês pensem que é conversa de mulher, quem me conhece sabe que é verdade,
eu primo o conforto e a diversão, aí a dignidade acaba ficando em quinto plano,
eis um princípio do mulambismo. Bem, pleno sábado a tarde, não tendo uma roupa
digna, minha única opção foi o shopping, onde após rodar em várias lojas com
peças de baixíssima qualidade e preços exorbitantes eu encontrei exatamente
aquilo que eu precisava.
Agora, entra a conversa de mulher, comprei o que precisava e
não resisti, encontrei uma calça perfeita, que me serviu direitinho (é difícil
gente!) e a um precinho mais que camarada, o que me restou senão comprar?
Metade da produção resolvida, faltou o sapato. Eu tenho, uma
sapatilha vermelha, desconfortável ao extremo que eu só uso quando necessário
mas, como seria necessário estava perfeito. Eis que me encaminhando para a
saída do shopping tinha uma loja com boa parte da coleção Crocs e uma sapatilha
P.E.R.F.E.I.T.A. que eu já tinha visto na Internet, mas na loja estava custando
20,00 a menos, então, não resisti, entrei para experimentar.
O atendimento da loja, a Magic Feet, era excelente, um
rapazinho muito atencioso foi buscar o sapato que eu queria no estoque enquanto
isso me aproximei de Maria Vitória. Ela veio para perto de mim assim que eu
sentei num dos bancos coloridos, estava acompanhada da mãe e da avó e já veio
querendo fazer amizade, eu que quase não gosto de crianças, ignorei os
conselhos do pessoal do Loucura Materna e comecei a dar atenção a ela, puxei
assunto dizendo que o cabelo trançado dela era lindo, e ela logo me respondeu:
é “afo”. Em menos de dois minutos éramos as melhores amigas, estávamos vendo os
bottons para Cros que, infelizmente, só ela pode usar, afinal, ela tem 2 anos e
8 meses e eu um pouco mais de 31.
O tempo todo a mãe e a avó de Maria Vitória diziam para ela
não me incomodar e eu, respondia que ela não estava me incomodando, pois
estávamos numa brincadeira divertidíssima com os bottons, mas eu fiquei meio
sem jeito, porque vai que a mãe e a avó não gostam que a menina brinque com
pessoas estranhas (em todos os sentidos da palavra). Vendo que não tinha mais
jeito, que a amizade já estava estabelecida, a mãe da minha amiguinha começou a
me contar da dificuldade que estava enfrentando para encontrar um sapato para
Maria Vitória, pois assim como eu, (desde a idade dela até hoje), ela não usa
meia calça nem a pau.
A mãe da menina explicou que tinham um casamento e que ela
tinha preparado uma roupa para o frio e outra para o calor, já que um vestido
com meia calça seria missão impossível, então ela estava levando uma linda
sapatilha Crocs para o calor e outra para caso de frio.
Ao explicar o drama da meia calça, Maria Vitória foi ficando
meio sem graça, afinal de contas, não é fácil não gostar de uma coisa que toda
menina deveria gostar. Foi aí que nossa amizade entrou em ação e fui logo
dizendo: Sabe, Maria Vitória eu também não gosto de meia calça, não uso de
jeito nenhum, é ruim para por, para tirar para ir ao banheiro, pinica, coça...
ela me interrompeu mostrando que coçava atrás do joelho e eu concordei.
Rapidinho a expressão dela mudou. Eu prossegui, você não precisa usar meia
calça se não quiser, a gente é da turma das que não usam meia calça, toca aqui
(um hi-five).
Nisso o vendedor trouxe a minha sapatilha, eu experimentei,
ficou perfeita, as da Maria Vitória também ficaram perfeitas no pé dela. Creio
que a mãe não tenha gostado muito da minha atitude, ela esperava que eu fosse
incentivar o uso da meia calça. Fomos para a fila do caixa, eu paguei primeiro,
me despedi da minha amiga com um abraço bem apertado e de sua família, saí da
loja, em sequência a mãe, a avó e a Maria Vitória também saíram da loja. Logo
senti uma mão em meu ombro, assustei e virei para trás, era a avó de Maria
Vitória que me perguntou: Qual sua religião?
Respondi que era ateia e ela me disse, não é não, você é toda de Oxum e
eu adorei.
Já havia lhe dito que esse lance de ser ateu/ateia é muito calmo e não nos sucita a eterna inquietude da dúvida.
ResponderExcluirO bacana, mesmo, é não ter certeza. E "tenho" certeza que sabes disso.
Parabéns pelo orixá!
Olha o perfil aqui:
"Seus filhos e filhas são doces, sentimentais, agem mais com o coração do que com a razão e são muito chorões. Também são extremamente vaidosos e conquistadores, adoram o luxo, a vida social, além de sempre estarem namorando."
http://pt.wikipedia.org/wiki/Oxum
Besooooooooo, Beto Figueirôa.