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terça-feira, 1 de março de 2011

Beleza acima de todas as coisas!

Eu gosto muito do que é belo independente de qualquer questão ideológica, lógica, estética, para mim vale o que é belo. Nunca fiz questão de esconder o meu posicionamento religioso, sou agnóstica, mas gostava muito de ler os textos do Don Luciano Mendes de Almeida aos sábados na Folha de São Paulo. Nem sempre eu concordava com ele, mas não havia como não se encantar com a forma doce e sincera que ele escrevia sobre assuntos cotidianos.
Esses dias, organizando os meus arquivos eu encontrei um texto muito bonito que o cardeal escreveu para a sua irmã quando do falecimento dela e mesmo não acreditando nas mesmas coisas que ele, eu acredito no que é belo e me sinto reconfortada quando lembro da morte de alguém importante, por isso, achei bacana dividir com os meus amigos visitantes.




LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Deus chamou minha irmã

Elisa Maria , minha irmã, partiu para o céu há dois dias.
Estava para completar 74 anos. Vida bela de quem só fez o bem. Todos passamos por situações difíceis quando pessoas queridas são chamadas por Deus. Como sacerdote, considero entre os ministérios sagrados, um dos mais importantes, estar ao lado dos que vão comparecer diante de Deus. São momentos de fé, de solidariedade, de sofrimento e de conforto fraterno. Recordo a ida para Deus de muitos parentes e amigos e a grande edificação espiritual de pessoas cuja vida santa se revelou ainda mais no fim da existência terrena e na hora da morte. Nessa ocasião, muitas vezes manifesta-se a beleza da fé, a confiança em Deus e a certeza da vida eterna e feliz.
Para os que têm a graça de conhecer as promessas da Ressurreição de Jesus, o acontecimento da morte adquire sua plena significação. É a passagem desta vida terrena para a Casa do Pai. Jesus garantiu aos discípulos que ia preparar um lugar a seu lado, onde seriam para sempre felizes. O mistério da Ressurreição ilumina a existência do cristão e faz com que cada passo da vida tenha no horizonte a esperança do encontro amoroso com Deus.
Tudo isso participa de nossa vida à luz do Evangelho e muito nos consola. São Paulo lembra aos cristãos que devem, pelo testemunho de fé, confortar os demais manifestando-lhes a luz da Ressurreição de Cristo.
Agradeço a Deus ter podido permanecer com minha irmã Elisa ao longo desses últimos dias e tê-la acompanhado no momento em que Deus a chamou para o prêmio eterno. Passou por sofrimentos de uma doença, parece congênita, que limitou aos poucos os seus movimentos e até a posse de sua memória e consciência. Sua comunicação reduziu-se cada vez mais. Durante os últimos meses, não conseguia mais falar. Limitava-se a abrir os olhos. Todos aguardávamos um sinal, pequeno que fosse, de sua compreensão. Mas não conseguia responder aos estímulos. Foi assim que Deus a convidou para deixar esta vida. Agora ela não sofre mais. Está em paz.
Minha irmã viveu a fé que recebeu de minha mãe. Estudiosa, distinguiu-se pelos resultados obtidos no Colégio Assunção no Rio de Janeiro. Formou-se em geografia, enfermagem e turismo. Trabalhou com afinco no IBGE e lecionou com paixão durante anos. Não se casou. Amava a vida e viajar pelo mundo. Sem medo, enfrentava distâncias e lugares desconhecidos. Guardava tudo na memória: paisagens e museus. Ao longo das viagens, louvava a Deus na beleza da natureza. Generosa, cuidou de meus pais e de outros parentes na hora da doença. Acompanhou-me dia e noite durante meses quando sofri o acidente em 1990. Sempre que podia, auxiliava os pobres com discrição e prodigalidade. Os três anos finais confirmaram sua virtude, especialmente sua paciência e entrega nas mãos de Deus.
Elisa querida, na paz de Deus, ajude-nos agora a viver fazendo o bem como você.
Um pequeno grupo de familiares rezava a seu lado as ave-marias aguardando o chamado para o céu. Na hora do Ângelus, Elisa Maria deixou esta terra. Segredei-lhe com amor: "Vai para Deus. O céu é belo, e ficará mais belo ainda quando você chegar".
Obrigado, Senhor.

Publicado em 04 de março de 2006 na Folha de São Paulo.

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