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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Um samba entre dois ônibus

Quando eu estava na primeira série, eu estudava um pouco longe de casa e ia para a escola de ônibus escolar, o ônibus escolar do Tio Wanderley. Pense num ônibus bagunçado? Era aquele ônibus com buzina do Poderoso Chefão. As crianças iam dentro soltas e correndo, os maiores falavam toda sorte de palavrão com a cabeça para fora e havia ainda os que iam sentados no motor.
Eu, na qualidade de boa nerd, gostava de sentar no último banco e ia bem quietinha, porque sabia que era errado ficar gritando com a cabeça para fora, eu poderia me machucar, como poderia ocorrer se eu ficasse correndo dentro do ônibus.
Uma vez, estava um calor infernal e um menino jogou um papel de pirulito melado pela janela e o rebelde papel, levado pela força do vento, grudou no moicano de um punk.
O punk subiu no ônibus e gritou tanto, que todos silenciaram, o menino chorou e pediu desculpas, o punk foi embora e o Tio Wanderley nem ligou. Na ocasião, eu contei para a minha mãe, mas pareceu tão surreal que ela não acreditou e ainda hoje acho que ela não acredita. Por isso, eu continuei indo no ônibus do Tio Wanderley.
Porém, algo muito desagradou a minha mãe, foi quando o ônibus quebrou, pertinho de casa e, em plena década de 80 sem celular e com orelhões a ficha, o Tio Wanderley saiu para procurar socorro e nos deixou cantando bem alto enquanto ele resolvia o problema. A ironia do destino é que o ônibus quebrou em frente a casa da mãe de um amigo do meu pai onde eu ia sempre, lá na Praça da Colina em São Bernardo, mas como a timidez é um monstro indomável, eu fiquei com vergonha de dizer que a amável senhora deixaria o Tio Wanderley usar o telefone. Cheguei em casa com quase duas horas de atraso e nunca mais fui  para a escola com o Tio Wanderley.
Depois de quase um mês, meus pais encontraram outro transporte para mim, o do Tio Marcos, este por sua vez, era o extremo oposto do Tio Wanderley, ele exigia silêncio absoluto e, se alguém conversasse ele parava o micro-ônibus e mandava descer. Ainda bem que isso nunca aconteceu comigo, porque senão, eu teria tido um troço.
Enquanto meus pais não encontravam uma vaga para mim no ônibus do Tio Marcos, o meu pai me levava para a escola, sempre ia em carros diferentes, porque ele aproveitava para testar os carros que consertava. Fiquei bastante popular por conta disso, sempre vinham me perguntar quantos carros meu pai tinha e lá ia eu explicar pacientemente que apenas um era nosso, os demais era dos clientes, mas em todos eles, íamos ouvindo a rádio transcontinental, que tocava samba e sempre tocava uma música da Leci Brandão que eu gostava tanto que meu pai sempre deixava eu ouví-la até o final caso o trajeto terminasse antes da música.


Um comentário:

  1. Impossível não lembrar da nossa van... do Rogel, Alexandre, do seu Ciro, das meninas, das nossas músicas... e de tantas outras histórias...

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